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2011

Relato Piocerá 2011

Amigos bikers, hoje posso dizer, realizei um sonho. Completei um Rally Piocerá. Não foi fácil, pelo contrário foi um Pica da galáxia, mas foi gratificante, foi emocionante, foi incrível e foi inesquecível. Não creio que eu vá conseguir, mas tentarei nas próximas linhas passar para vocês um pouco do que foi correr o Piocerá 2011, que não é uma simples corrida de Mountain Bike é um Enduro Rally onde aprendi que tudo, literalmente tudo, pode acontecer.
Abração,
Siqueira

- Prólogo – 24 de janeiro.
Após a viagem de 1700km de carro até Juazeiro do Norte – CE me juntei a cinco outros ciclistas, um apoiador e um motorista (Uma figura) dentro de uma Sprinter enquanto no outro carro, uma caminhonete 4x4 iam outro motorista e mais 3 atletas e suas bikes. Rodamos mais 600km até Teresina – PI, onde seriam as vistorias (técnicas e médica) e a largada promocional. Chegamos às 05:30 da madruga e ninguém dormiu direito. Um pouco de desconforto no carro, mas a causa principal, acho, foi a ansiedade geral. Mesmo os que já participaram de outras edições do Rally estavam “tensos”. Caia uma chuva fina que hora engrossava e depois parava. Não estava quente pra minha surpresa.
Chegamos ao Hotel onde deixamos as malas, tomamos café e montamos as Bikes. Na vistoria era obrigatório apresentar a bike e o capacete, mas muitos foram com roupa completa e pedalando. O desfile de “máquinas começou. Galera.... foi chique na última. “Cannondales”, “Scotts”, “Treks”, “Meridas”, “Giants”, “Specializeds”, uma Canyon, 2 FS1( incluindo a minha), umas 2 “Calois” e uma bike protótipo da Houston toda XTR. A Houston foi uma das empresas patrocinadoras do evento e Tb patrocinou um dos atletas da Over40. Tinha carbono pra todo lado. A Bike mais top era uma Trek 9.9 SSL com peças super top que segundo o feliz Rider estava pesando 7,8kg.... Uma pintura mesmo... “sempre sonhei!!!” No mundo das Full suspension as Scott Spark e Specialized Epic e FSR estavam lá. Tinha uma Specialized Epic 29. Também tinha umas 3 bikes básicas de um grupo de cicloturistas que estavam lá na intenção apenas de completar a prova. Uma delas tinha bagageiro e nessa hora lembrei-me do nosso guerreiro Carlão.
Os caras da organização olhavam as bikes, anotavam o número do quadro e procuravam trincas ou quebras, conferiam freios, corrente, pneus, pedais, canote e selim. Muito profissional mesmo e soube depois que houve uma bike que foi reprovada, sorte do cara que era de Teresina e arranjou outra de um colega.
Confirmei minha presença, ganhei o kit com caramanhola, boné, adesivos da Houston, biscoitos e chilitos promocionais e uma camisa bacana do Rally. Hã e o principal né... O adesivo da vistoria na Bike. Voltamos pro hotel e passamos a tarde no Shopping da cidade.
A noite fomos todos prontos para a Largada promocional. Tinha muita gente, Motos, Quadriciclos, Carros e os Bikers. A organização foi legal e tinham tendas dos patrocinadores vendendo roupas, equipamentos, Bikes (Houston), Motos e Quadriciclos(Honda) e Caminhonetes AMAROC expostas. Os bikers abriram o desfile. Giramos por um campo de futebol e passamos na passarela para as fotos e filmagens.... Pô os caras vacilaram na colocação da rampa em aço meio liso que com a chuvinha virou sabão e aí teve gente caindo antes da hora....
Tinha a imprensa em peso com cobertura do pessoal do Esporte Espetacular inclusive. Terminada a promocional voltamos para o hotel pedalando (5km), deixamos tudo pronto (Percebi que esqueci a cinta do Polar e nessa hora o prevenido companheiro Gustavo me emprestou uma, é o cara tinha levado 2. E antes do fim do Rally ainda quebrou meu galho mais vezes com outras coisas e eu consertei a bike dele). Comemos Pizzas com suco de laranja enquanto desabava uma chuva pesada. Dormi igual uma pedra... ZZZzzzzz!!!


- Primeira Etapa – 25 de janeiro. 59km especial e 37km deslocamento.


Café da manhã às 05:00h e saímos para o local da largada. Chegando lá vi que a pressão ia aumentando. Eu tava tranqüilo. Enquanto fazia meu aquecimento vi gente correndo pro banheiro e uns pro mato, aí aconteceu a primeira mazela, dois caras foram cagar no mato e encostaram em plantas de Urtiga..... Hummm.... ficaram com as pernas empoladas e tiveram que tomar antialérgicos é mole....... Foi bom pra descontrair a galera...... hahaha.... Claro que eu não zoei nem um pouquinho né!!!....
Posicionei-me para a largada na primeira fila, junto aos feras afinal eu tinha me preparado bem e queria andar com os caras. A chuva da noite tinha encharcado geral e o coordenador da prova avisou que haviam mudado o percurso, pois um rio tinha transbordado (Putz).

Aviso de largada em cinco minutos.... Coração começa a acelerar de leve.... Toca a buzina.... Larguei na cabeçada e com uns 2 km tava eu e mais dois revezando na ponteira.... coração à 85% belezinha. Olhei no Q-tay e tava a 30km/h.... ”Maneiro, legal”.... acho que até fraco né... De repente a primeira fuga..... QUE PICA...3 caras de roupas iguais de uma equipe do Pernambuco deram um tiro....

A cabeçada foi atrás e a velo chegou aos 45, 48km/h.... anulada a fuga em pouco mais de 2 minutos.... Voltamos aos legais 30km/h.... 30 segundos depois dois caras de outra equipe torceram o cabo.... Lá vamos nós, 40, 45km/h por uns 3 minutos, coração passa de 183 BPM.... Vem o sossego.... Essa brincadeira continuou e não é que tava bom, bom demais.... Passamos uns trechos de lama na canela no meio de um canavial...

O pelotão diminuiu.... (nessa hora valeu o treino que fiz com o Leandro, Pedro e Renatim). Contando comigo acho que eram uns 11 ou 12 agora.... Pegamos um plano que dava pra ver uma subida mais a frente, pensei.... Agora é minha vez... Tradicionalmente os riders do Nordeste não sobem tão forte (lá tem poucas subidas pra treinar) então ali era a chance deu dar o pulo do gato e vi que tinha dois de minas no bolo.

Puxei uma fuga forte por uns 4km engolindo a subida no coroão junto com 3 bikers.... O galerão ficou geral.... colocamos uns 200 metros no segundo grupo e estávamos abrindo e sobrando..... Acho que esse foi o melhor momento de todo o Rally, primeiro dia, 45 minutos de prova e eu no 1º pelotão com os feras dos feras.... Eu tava feliz igual pinto no lixo..... De repente um estalo “QUE PICA” eu fui parando.... Quase derrubei um dos riders (era o Zé Filho triatleta de Fortaleza que competiu comigo nos tempos do Circuito Limão Brahma anos 90 e me reconheceu depois)... Olhei pra baixo a corrente arrastando no estradão.... Ataiai.... .... (mal eu sabia que ali começava o flagelo desse dia).

Parei rapidim e precavido já voei no powerlink extra, perdi uns 5 a 6 minutos no nervosismo e consegui sacar o elo quebrado e recolocar a corrente enquanto o segundo pelote e outros bikers iam passando a mil. Voltei a pedalar e logo formou um grupinho, comecei a puxar pra tentar buscar a cabeçada ou ao menos o segundo pelote. Quando via um rider a frente mirava nele e pensava: “aquele eu pego”, apertava até colar na roda, descansava uns 2 minutos e partia pra outro. Nisso vinham uns 3 ou 4 me acompanhando, outros ficaram pra trás.

Passamos por uma ponte de madeira e um cara caiu.... entramos num trecho de piçarra e a velocidade cresceu, tava andando à 38km/h mas percebi que estava gastando muita energia pois só eu tava com a cara no vento, então segurei em 30km/h e mesmo assim ninguém quis puxar...... sacanagem. Sai da aba pô. Vi uma subidinha e aí “meti a bota”.... Não veio um.... É aquela coisa, 30 metros de subida viram uns 150 na descida, fui embora.

Alcancei dois cara que corriam em dupla..... Perguntei se podíamos compor pra se ajudar e os caras toparam... Mas o trecho que passamos juntos o problema não era vento, era lama.... Tinha lugar que não adiantava ir na beiradinha do estradão. A lama era na canela.... Uma Pica e após uns 4kms senti a bike ficando “pesada”, os caras girando e eu fazendo uma força... o disco piava igual uma coruja eu morrendo de fazer força.... Dá não... Parei...

Debaixo de uma árvore girei a roda dianteira, livrinha, blz... fui girar a traseira e parecia uma roda de caminhão. O freio tava quase travado... e a lama “comendo de esmola”... Gastei quase uma garrafinha toda de água limpando o caliper e aí percebi que uma pedrinha tava presa entre a pastilha e o êmbolo do pistão o que fazia um lado ficar forçando o disco... Com a chave de fenda consegui depois de muito sofrimento desgarrar a pedra, e forcei a pastilha pra voltar, 100% não ficou, mas dava pra seguir...

Voltei a girar e percebi a Renatinha na Roda.... Calma, é Renatinha mesmo, não era o nosso Comocome da estrela. Era a primeiro lugar feminino(Ela ganhou o rally e o namorado dela Ivanildo foi o campeão entre os homens). Ela vinha puxando um pelotinho de 5 e eu logo vi que os caras só “sugavam na aba” andando na roda. Galera e pensem numa baixinha que pedala forte. Como sou cavalheiro tomei a frente e comecei a apertar. Sabia que não tinha mais chance de buscar os ponteiros mesmo por que um motoqueiro da organização passou e disse que eles estavam a mais de 20 minutos adiante... Eu puxei forte pra pelo menos fazer um tempo melhor e nisso esse grupinho andou uns 15 km juntos. Minha água acabou e comecei a ficar preocupado. Uns 3 Km e a sede batendo meu ritmo caiu.

Renatim dá uma puxada e vai embora levando outros cara na roda(vão me zoar já sei). Ficou eu e outro (O cara sem água Tb foi ficando pra trás. Eu não podia fazer nada pô(quando a farinha é pouca meu pirão primeiro né). Uns 10 minutos depois vem um cara e emparelha... Era o Manuel da equipe Cajubiker’s de Juazeiro do Norte (Um cara gente boa e meu chegado) ele fala comigo e eu na hora: “To lascado de sede minha água acabou lá atrás, pedido de amigo, pedido de amigo dá uma aguinha aí”. O cara puxa uma garrafa cheinha e ainda meio gelada do bolso e me entrega... Valeu Manelão... Andamos um tempo juntos e passamos uns dois com Pneus caídos correntes furadas sei lá.... No Km 47 ponte de rehidratação.... Eu parei e resolvi encher as 2 garrafas, Manuel pegou dois copos e zarpou rapidim. Nada não, falei te pego jájá.... o outro rider sem água chegou e deitou no chão.... O cara parecia aqueles perdidos no deserto quando chegam num oásis.... ficou lá... bebendo água jogado na sombra... Nessa hora eu me assustei e pensei pô esse negócio aqui pode matar um véi... (Mas tinha bastante pontos de hidratação).

Apertei o “pé” pra buscar o Manuel e a Renatinha na intenção de pelo menos chegar junto. Depois de umas curvas e subidinhas fracas Manuel no visual, coloquei um alvo nas costas dele. Na ora que to colando o cara dá uma olhada pra traz e minha gancheira quebra.... desculpa aí mas PUTA QUE PARIU!!!.... Que olho gordo do carai heim Manuel... primeiro alisou com água e depois botou com areia né...
Aí veio o dilema: 1-gastar uma garrafa pra limpar a lama e trocar a gancheira naquela situação com o risco de estragar a rosca do câmbio (XO orange em alumínio) ou 2-correr até o fim da especial (trecho cronometrado). Passou um dos motoqueiros “anjos da guarda” e eu perguntei falta quanto pro fim da especial o cara falou “pouquinho... é bem aí...”

BEM AÍ... BEM AÍ.... Quando um nordestino disser que é BEM AÍ.... Vá não!!! Peguem um taxi OK... Corri 8km empurrando a bike... isso mesmo corri... numa média de 12 km/h... Pensei em parar, mas via um bike passando e ficava puto, via outro e pensava ta chagando...

Um passou e perguntou quebrou?... NÃO, NÃO ABESTADO ELA FICOU CANSOU E EU TÔ EMPURRANDO A COITADA!!!... Outro fez a mesma pergunta... @#&%$#*&@ Tomar no *&%$#@#$#@& Filho da @#$#%@#$... completei com 2h,46min e 07seg.... 41minutos depois do 1º lugar...

Moído, lascado, com sede e todo cheio de lama com a gancheira quebrada... Mas completei... UFA!!!!

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inque hominum salutem"

 

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